A imagem de Virgínia Fonseca ao depor na CPI das Apostas Esportivas foi cuidadosamente planejada — e nem por isso menos política. Longe do brilho das redes sociais, dos looks extravagantes e das campanhas milionárias, a influenciadora escolheu um figurino sóbrio, com cabelos soltos, óculos de grau, pouca maquiagem e traje discreto: blusa com o rosto da filha, uma calça moletom e tênis. A mensagem era clara: ela não estava ali como celebridade ou empresária, mas como "cidadã comum", quase uma espectadora ingênua dos próprios negócios.
Essa escolha de imagem, porém, está longe de ser inocente. Ao adotar um visual que remete à simplicidade, Virgínia não apenas tenta se desvincular da ideia de poder e influência que a cerca, como também ativa uma estratégia clássica de defesa simbólica: a despersonalização. Ao se apagar enquanto figura pública, ela tenta tornar crível a narrativa de que apenas "emprestou sua imagem", como se esta imagem não fosse precisamente sua maior moeda.
O contraste entre a Virgínia das redes e a Virgínia da CPI levanta um ponto crucial: até que ponto o público está disposto a separar a persona da pessoa? A tentativa de parecer alheia às consequências de sua associação com a plataforma de apostas faz parte de um movimento mais amplo — o da estetização da inocência como blindagem moral. Um jogo de aparências onde o que está em julgamento não é só a legalidade, mas a legitimidade de sua atuação como figura de influência.
A aposta na simplicidade como escudo ético revela uma ironia perversa: na era digital, ser poderosa exige performar fragilidade. A imagem da jovem mãe, "apenas uma influencer", contrasta violentamente com os milhões movimentados, os contratos empresariais e o impacto direto que sua atuação exerce sobre públicos jovens e vulneráveis. Virgínia, ao se apresentar como coadjuvante, reforça um modelo de poder que age nos bastidores da imagem — mas que, ainda assim, move estruturas.
Por trás do moletom discreto, existe uma estratégia de alto contraste. E a política do visível, mais uma vez, fala mais do que os discursos formais: a CPI não só expôs possíveis irregularidades no setor de apostas, mas também revelou como a estética da ingenuidade se tornou ferramenta de gestão de crise na era da influência.