Othon M. Garcia, autor da obra Comunicação em Prosa Moderna, levanta um questionamento muito válido para nossa reflexão. Ele pergunta: “De quantas maneiras é possível errar, segundo a lógica no encadeamento das ideias em um discurso?”. A resposta é simplesmente fantástica: podemos errar de duas maneiras — “Erramos raciocinando mal com dados corretos ou raciocinando bem com dados falsos”.
Nesse sentido, algumas pessoas, mesmo que disponham de muita informação, não são capazes de organizar o pensamento e acabam produzindo o que se chama de “falsa opinião”, pois tiveram como ponto de partida um raciocínio vicioso ou ilegítimo.
A partir da abordagem de Garcia, podemos perceber o quanto algumas informações compartilhadas nas redes sociais são falaciosas, especialmente nesta época em que as chamadas fake news se tornaram cada vez mais comuns, principalmente quando o raciocínio é falho e baseado em dados falsos.
Como de praxe, para embasar nossa avaliação, exemplificaremos com um fato da nossa realidade local. É válido ressaltar que se trata de uma crítica ao conteúdo, e não uma mera crítica a personalidades. Pois bem, determinado texto de opinião afirma que o atual prefeito municipal “conquistou a confiança de 90% dos servidores”.
Embora qualquer elogio possa ser válido para qualificar uma gestão, o ponto fundamental é que, diante de um dado como esse, é preciso questionar qual foi a fonte e qual a metodologia utilizada para assegurar uma aprovação tão expressiva. E esse não é um mero detalhe, mas sim a demonstração de um argumento baseado em evidências, que busca, por meio da apresentação de dados ou estatísticas, levar o leitor a aceitar uma tese.
Por mais polêmico que possa parecer, se não há fonte nem metodologia para a exposição dos dados, estamos diante de um argumento falso e, sendo falso, trata-se, na verdade, de um argumento mentiroso.
É evidente que a relação de respeito e colaboração pode ser evidenciada por diversos meios, mas é essencial garantir transparência quando se trata da citação de dados. Aqui, há uma digressão muito clara para análise dos projetos em tramitação no Congresso Nacional que visam regulamentar as responsabilidades e sanções para aqueles que divulgam notícias falsas sem a devida certificação de sua veracidade.
Mesmo que alguns não consigam atribuir a devida importância a detalhes dessa natureza, são justamente esses detalhes que, por meio das plataformas digitais, moldam a opinião pública e manipulam informações para atender a determinados interesses.
Conquistar a opinião pública utilizando dados não comprovados metodologicamente é imoral, antiético e demonstra uma grande falta de profissionalismo. A relação em um ambiente de trabalho deve ser a mais harmoniosa possível, com um tratamento respeitoso e profissional, independentemente das convicções políticas de cada servidor.
Para além dos dados apresentados, só saberemos de fato o grau de satisfação e aprovação tanto dos servidores quanto da população em geral a partir de uma demonstração material, pois, como diz o ditado: “O papel aceita tudo”.
Thiago Augusto
Servidor Público
Graduado em Processos Gerenciais e Gestão de Trânsito
Especialização em Segurança Viária e Segurança Pública
Acadêmico de Direito
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