Cultura Moda
O belo incomoda?
A beleza, nesses casos, não é apenas aparência — é postura, é narrativa, é atemporalidade.
03/04/2025 15h18
Por: Redação H1MT Fonte: Por Nathália Fernandes
Grace Kelly, 1950

Na esfera da moda, a tensão entre o clássico e o inovador é como uma dança que se repete ao longo do tempo. Alguns estilistas buscaram a beleza em formas equilibradas e elegantes — é o caso de Cristóbal Balenciaga, conhecido por tratar a roupa quase como uma escultura, com linhas precisas e atemporais. Curiosamente, a mesma marca que um dia celebrou a harmonia visual hoje provoca o olhar com peças que beiram o mau gosto: jeans excessivamente rasgados, tênis deliberadamente destruídos e, como exemplo emblemático, o look usado por Kim Kardashian, no Met Gala de 2021.

 Seria uma provocação gratuita ou uma manifestação contemporânea de dadaísmo? Vale lembrar que o dadaísmo, movimento artístico e literário do início do século XX, surgido na Europa e nos Estados Unidos, era por definição antissistema, anticapitalista e antiarte — uma rebeldia estética que, ironicamente, hoje é absorvida pela própria indústria cultural que ele criticava.

Seguindo essa linha de desconstrução, nomes como Rei Kawakubo e Martin Margiela também optaram por desafiar os padrões tradicionais de beleza. Suas criações desconcertantes, com cortes assimétricos, tecidos desfiados e estruturas inusitadas, colocaram em xeque o que se convencionou chamar de “bonito”. Ao explorar o “estranho”, esses criadores abriram espaço para uma nova leitura do belo — menos sobre perfeição, mais sobre provocação e significado. Ainda assim, mesmo nas estéticas mais radicais, existe uma lógica visual, um sistema de códigos que continua operando, ainda que sob novas regras.

Apesar de tantas rupturas, o belo jamais deixou de ser valorizado. Ainda há quem preze pela sofisticação e pela harmonia. Basta observar o legado de nomes como Valentino, cuja assinatura é a elegância refinada, ou Elie Saab, que transforma vestidos em verdadeiras joias. Ícones como Grace Kelly, Audrey Hepburn e Jackie Onassis continuam a inspirar gerações, assim como figuras mais recentes, como Catherine Zeta-Jones e Lily Collins, que atualizam a estética clássica com frescor e autenticidade. A beleza, nesses casos, não é apenas aparência — é postura, é narrativa, é atemporalidade.

No fim das contas, o belo não é careta — é clássico. E o clássico, por mais que se reinvente, nunca sai de cena. Em um mundo saturado de estímulos, ruídos e excessos, a beleza ainda exerce seu magnetismo silencioso: atrai olhares, cria memórias, desperta emoções. Na moda, ela é o ponto de equilíbrio entre o impacto e a permanência, entre o agora e o eterno. Mais do que um ideal estético, o belo é uma linguagem — e, talvez por isso, ainda seja o que mais profundamente nos toca, nos persuade e ecoa no tempo com a mesma elegância do primeiro olhar.